O cenário do mercado de seguros no Brasil está prestes a passar por uma significativa transformação.

    Em uma sessão crucial no Plenário da Câmara dos Deputados, legisladores debatem o Projeto de Lei Complementar 519/18, uma proposta que promete remodelar a atuação das cooperativas de seguros e entidades de autogestão de planos de seguro patrimonial.

    Este artigo explora as nuances deste debate, suas implicações para o setor e os consumidores, bem como as controvérsias que o cercam.

    O Debate na Câmara

    No coração de Brasília, o Plenário da Câmara dos Deputados fervilha com discussões acaloradas sobre o futuro do setor de seguros no país.

    O Projeto de Lei Complementar 519/18, objeto central do debate, visa estabelecer um regime jurídico mais inclusivo e robusto para o Sistema Nacional de Seguros Privados.

    O relator do projeto, deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), defende com veemência a aprovação do texto com uma subemenda substitutiva.

    Segundo ele, a proposta cria um ambiente de maior segurança jurídica para a atuação das associações de proteção veicular e de benefícios mútuos.

    Esta subemenda, fruto de um trabalho meticuloso, incorpora elementos de outros projetos de lei e sugestões de entidades governamentais e setoriais.

    As expectativas em torno do projeto são altas. O deputado Bohn Gass (PT-RS) expressa esperança de que a aprovação da proposta resulte em uma redução significativa nos preços de seguros para automóveis e caminhões.

    Ele enfatiza a importância de oferecer segurança e preços mais acessíveis para aumentar a adesão ao seguro, especialmente entre caminhoneiros autônomos, frequentemente desamparados pelas políticas atuais.

    Por outro lado, vozes como a da deputada Bia Kicis (PL-DF), líder da Minoria, alertam para possíveis riscos, como a criação de reservas de mercado no setor de seguros de vida. Ela defende uma abordagem mais inclusiva, visando expandir o mercado como um todo.

    O líder do Republicanos, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e o vice-líder do governo, Reginaldo Lopes (PT-MG), destacam os potenciais benefícios econômicos do projeto.

    Eles argumentam que a nova regulamentação poderá aumentar a competitividade no setor produtivo, reduzir custos de seguros e contribuir para a preservação do patrimônio brasileiro, além de ampliar a poupança doméstica.

    Reclamações e Controvérsias

    Apesar do otimismo em torno do projeto, o setor de seguros no Brasil não está isento de críticas e controvérsias. Um olhar mais atento revela um panorama complexo de desafios e insatisfações:

    1. Falta de Cobertura: Diversas associações têm levantado bandeiras vermelhas sobre a inadequação da cobertura oferecida por muitas seguradoras. Relatos de segurados que se veem desamparados em momentos cruciais têm se multiplicado, evidenciando lacunas no sistema atual.
    2. Processos Judiciais em Ascensão: O Judiciário brasileiro tem testemunhado um aumento significativo no número de processos envolvendo disputas entre segurados e seguradoras. Estes litígios frequentemente giram em torno de interpretações divergentes de cláusulas contratuais e negativas de cobertura.
    3. Avalanche de Reclamações no Reclame Aqui: A plataforma de defesa do consumidor “Reclame Aqui” tem registrado um volume alarmante de queixas relacionadas a serviços de seguros. As reclamações variam desde dificuldades no processo de contratação até problemas na hora de acionar o seguro.
    4. Transparência Questionada: Muitos consumidores expressam frustração com a falta de clareza nas políticas e procedimentos das seguradoras, alegando que informações cruciais são frequentemente obscurecidas por jargões técnicos ou enterradas em letras miúdas de contratos extensos.
    5. Demora nos Processos de Indenização: Um ponto recorrente de insatisfação é a morosidade nos processos de indenização. Segurados relatam esperas prolongadas e burocracias excessivas para receber valores devidos, mesmo em situações aparentemente claras de cobertura.

    Como Funcionam as Cooperativas de Seguros

    Em meio a esse cenário de desafios e mudanças, é crucial entender o funcionamento das cooperativas de seguros, um modelo que ganha destaque no debate atual:

    1. Princípio da Mutualidade: As cooperativas de seguros operam sob o princípio da mutualidade, onde os membros compartilham riscos e benefícios. Diferentemente das seguradoras tradicionais, que visam o lucro, as cooperativas focam em oferecer proteção a custo mais baixo para seus associados.
    2. Governança Democrática: Cada membro da cooperativa tem direito a voto nas decisões importantes, promovendo uma gestão mais transparente e alinhada com os interesses dos segurados.
    3. Reinvestimento de Excedentes: Os excedentes financeiros gerados pela cooperativa são geralmente reinvestidos na própria organização ou distribuídos entre os membros, ao invés de serem direcionados a acionistas externos.
    4. Foco em Nichos Específicos: Muitas cooperativas de seguros se especializam em setores ou grupos profissionais específicos, permitindo uma melhor compreensão e atendimento das necessidades particulares desses segmentos.
    5. Desafios Regulatórios: Até o momento, as cooperativas de seguros enfrentavam desafios significativos devido à falta de uma regulamentação clara e específica, uma lacuna que o PLP 519/18 busca preencher.
    6. Potencial de Inovação: Com uma estrutura mais flexível e próxima dos associados, as cooperativas têm o potencial de inovar em produtos e serviços, adaptando-se mais rapidamente às mudanças no mercado e às necessidades dos consumidores.

    Conclusão

    O debate sobre a regulamentação das cooperativas de seguros representa um momento crucial para o setor no Brasil.

    Enquanto promete trazer maior segurança jurídica e potencialmente reduzir custos para os consumidores, o projeto também enfrenta o desafio de abordar as múltiplas reclamações e controvérsias que permeiam o mercado atual.

    À medida que o Plenário da Câmara continua suas deliberações, fica claro que o futuro do setor de seguros no Brasil está em um ponto de inflexão.

    A aprovação do PLP 519/18 pode abrir caminho para um mercado mais diversificado, com as cooperativas de seguros desempenhando um papel mais proeminente ao lado das seguradoras tradicionais.

    O sucesso desta iniciativa, no entanto, dependerá não apenas da letra da lei, mas também de sua implementação efetiva e da capacidade do setor de abordar as preocupações dos consumidores.

    Somente com um equilíbrio cuidadoso entre regulação, inovação e proteção ao consumidor, o mercado de seguros brasileiro poderá evoluir para um sistema mais justo, eficiente e acessível para todos os cidadãos.

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    Avatar de Nilson Tales Guimarães

    Formado em Engenharia de Alimentos pela UEFS, Nilson Tales trabalhou durante 25 anos na indústria de alimentos, mais especificamente em laticínios. Depois de 30 anos, decidiu dedicar-se ao seu livro, que está para ser lançado, sobre as Táticas Indústrias de grandes empresas. Encara como hobby a escrita dos artigos no Curioso do Dia e vê como uma oportunidade de se aproximar da nova geração.