Entre prateleiras e tarefas, o sorriso de Gina mostra a pressão que muitas mulheres sentem para dar conta de tudo. Ao olhar para essa imagem perfeita, surge uma questão: até que ponto esse sorriso é força e até que ponto é um pedido de ajuda disfarçado?

    Estava eu no supermercado, me sentindo uma supermãe em ação. Tentava dar conta da casa, das compras, das crianças e até do jardim. A tarefa não era fácil. A lista de compras era longa e o tempo não ajudava: era seis e meia da tarde.

    Sendo bem sincera, não sou fã de fazer compras. Faço isso mais por obrigação do que por gosto. E naquele dia em particular, as compras estavam atrasando um monte de coisas que eu precisava resolver. Foi nesse momento que eu a vi.

    Entre um guardanapo e o papel filme, estava Gina. Ela sorria, mas seu sorriso envelhecido parecia estar pedindo ajuda. Era como se aquele sorriso simbolizasse tanto tempo passando, mais de cinquenta anos. O sorriso da dona de casa perfeita, sempre linda e com a casa em ordem, os bibelôs brilhando sem pó.

    Gina se tornou uma referência, uma verdadeira “Amélia” dos tempos modernos. Esse sorriso reluzente nos lembrava do que muitos acreditam serem as verdadeiras qualidades femininas: servir e sorrir. Gina, que parece sempre ter a solução para tudo, oferecendo um palito com um sorriso que dizia muito.

    Ela é a superdona de casa que faz tudo parecer fácil. Com roupas passadas e bem organizadas, comida variada na mesa. Gina é, sem dúvida, a eterna cuidadora. Cabelo sempre arrumado, unhas feitas e um sorriso que brilha. Sempre pronta para dar atenção aos filhos e ao parceiro, ela é a mulher que dá conta de tudo.

    Gina é também a gestora da casa. Sabe contornar qualquer situação, esteja faltando papel higiênico ou criando um cardápio criativo. Ela sai do banheiro sem deixar rastros, sempre organizada. Gina, a profissional, é uma mulher admirável.

    Mas, além de ser uma excelente dona de casa, Gina é uma profissional de sucesso. Empresária reconhecida, conferencista de prestígio, sempre ativa e competente. Então, por que o olhar de desespero? O que poderia estar acontecendo com essa mulher que parece ter a vida perfeita?

    Nessa busca constante pela perfeição, Gina parece estar sobrecarregada. Nas interações com as outras mulheres, é possível perceber que a pressão é grande e que muitas se sentem na obrigação de se encaixar nesse ideal. O sorriso carismático dela pode esconder um cansaço profundo.

    Muitas mulheres, assim como Gina, se sentem na obrigação de desempenhar múltiplos papéis. Ser mãe, trabalhadora, esposa e ainda estar sempre bem arrumada é uma expectativa pesada. Essa pressão pode gerar um sentimento de solidão e fragilidade.

    O que vemos na superfície muitas vezes não reflete a realidade. O sorriso de Gina pode ser um símbolo de resistência, mas também é um chamado à empatia. É hora de refletirmos sobre a verdadeira carga que as mulheres carregam. Um sorrisinho pode esconder histórias de luta e cansaço.

    Ainda que Gina aparentasse ter tudo sob controle, isso pode ser uma armadilha. Nesse jogo de aparências, é comum que muitas mulheres se sintam exaustas e sem apoio. Afinal, quem cuida das cuidadoras? As redes de apoio são fundamentais, mas frequentemente ficam relegadas ao segundo plano.

    É muito comum discutir a importância do autocuidado entre as mulheres. O cuidado com a saúde mental e física não pode ficar em segundo lugar. Para que Gina consiga manter sua imagem de força, ela precisa, antes de tudo, cuidar de si mesma.

    Fazer compras não deveria ser uma tarefa solitária. É comum que as mulheres façam isso sozinhas, mas, em grupo, tudo se torna mais leve. Compartilhar responsabilidades e desafios é uma maneira de aliviar o peso. Tratar o dia a dia como um esforço conjunto é essencial.

    Gina nos representa de diversas maneiras. A vida dela retrata de forma fiel os desafios diários enfrentados pelas mulheres hoje em dia. O equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é uma meta desejada, mas nem sempre alcançada. Muitas se sentem pressionadas a abraçar o mundo.

    Saber que outras mulheres enfrentam batalhas semelhantes pode ser reconfortante. A experiência de Gina é uma lembrança de que todos têm suas lutas, mesmo que ocultas. Conversar e compartilhar essas experiências pode ajudar a desmistificar a ideia de que todas as mulheres têm que ser superpoderosas.

    Gina, assim como tantas outras, é uma guerreira que continua lutando todos os dias. Mas o mais importante é lembrar que ninguém deve enfrentar essa luta sozinha. A solidariedade e amizade entre mulheres pode ser uma verdadeira força transformadora.

    Seja na cozinha, no trabalho ou na vida pessoal, Gina e tantas outras mulheres merecem ter um espaço para relaxar e ser quem realmente são. É fundamental quebrar o estigma de que sempre devem estar sorrindo ou sendo perfeitas.

    Por fim, a jornada de Gina nos faz refletir sobre nosso papel na vida de outras mulheres. Não há problema em falhar ou em não se encaixar no ideal de perfeição. O importante é buscar equilíbrio e estar aberta a pedir ajuda quando necessário.

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    Formado em Engenharia de Alimentos pela UEFS, Nilson Tales trabalhou durante 25 anos na indústria de alimentos, mais especificamente em laticínios. Depois de 30 anos, decidiu dedicar-se ao seu livro, que está para ser lançado, sobre as Táticas Indústrias de grandes empresas. Encara como hobby a escrita dos artigos no Curioso do Dia e vê como uma oportunidade de se aproximar da nova geração.